Ah, se houvesse como deixar os problemas pessoais em casa...Já pensou? "Fique aqui, problema que, tão logo eu termine meus compromissos, prometo voltar a sofrer com toda a intensidade merecida." Infelismente a realidade é outra: pesquisa realizada pela Health Promotion and Substance Abuse Prebention, agência governamental norte-americana dedicada à prevenção da saúde mental, mostra que 70% dos funcionários que enfrentam problemas pessoais não conseguem deixá-los em casa quando saem para trabalhar. Se esse é o seu caso, saiba que nem tudo está perdido. Especialistas em trabalho e comportamento sugerem algumas atitudes que podem ajudá-lo a conciliar a vida dentro e fora da empresa, sem permitir que as dificuldades pessoais façam estragos na carreira. O primeiro é assumir que você não é super-herói. "Pouquíssimas pessoas não deixam que nada abale o seu trabalho", diz Nivaldo Dutra, diretor de recursos humanos da Unitech, empresa de tecnologia da informação co m cerca de 1200 funcionários e sede em Salvador (BA). O melhor, segundo ele, é criar uma relação do tipo "conta corrente" com a organização em que você trabalha. Qdo o funcionário está bem e a empresa precisa, ele trabalha algumas horas a mais. Qdo é ele que precisa de mais tempo para seus problemas pessoais, o chefe trata de liberá-lo. "Não há outra saída. É uma estrada de mão dupla e imprevistos sempre acontecem, tanto de um lado quanto de outro." Ponto pacífico para diretores de RH, consultores e psicólogos é que a organização precisa saber que o funcionário está enfrentando uma dificuldade pessoal. Tanto para ajudá-lo quanto para impedir que a situação prejudique a companhia. "O funcionário precisa entender que seu superior vai ser cobrado caso as metas não sejam atingidas. Ele precisa dividir o problema, para que o chefe monte uma estratégia para cobrir sua ausência ou queda na produtividade, mesma que seja eventual", diz o consultor Wilson Mileris, que atua há 23 anos na área de motivação e liderança. Foi exatamente o que fez a paulista Mônica Bianchi, de 38 anos, coordenadora de marketing da Sab Company, em São Paulo. Há cerca de dois anos, ela descobriu que a mãe sofria da Doença de Graves, disfunção na tireóide, que, com o passar do tempo, afetou a visão, o coração e o sistema motor. A radioterapia e os medicamentos acabaram enfraquecendo o sistema imunológico e, com isso, surgiram novos problemas de saúde, como pneumonia.
Quando tudo isso aconteceu, Mônica tinha acabado de trocar de área e ocupava o cargo de analista de marketing. "Íamos constantemente ao médico e havia tbm as internações. Várias vezes tive de adiar compromissos, desmarcar reuniões, cancelar a apresentação de projetos", lembra. "Mas contei logo no início o que se passava comigo e tive sorte. Aqui na empresa, trabalhamos o tempo todo em conjunto, tem sempre alguém que participa do que estou fazendo e pode me representar. Desde o começo, foi isso que me amparou." Mônica teve apoio, mas tbm fez a parte dela. Quando precisava se ausentar, acompanhava o trabalho através de telefonemas e, quando necessário, acessava a internet no hospital, para dar andamento a algum projeto. "Eu me sentia comprometida e não queria deixar ninguém na mão". Ao voltar ela encontrava um acúmulo natural de trabalho, mas a empresa nunca exigiu que compensasse os dias que se ausentou.
Antes de dividir os problemas com o chefe e os colegas, como fez Mônica, é preciso pesar algumas coisas. Em primeiro lugar, tente deixar a emoção de lado por alguns momentos e responda: a situação é mesmo séria? Nem pense em se lamentar na sala do chefe toda vez que discutir com o marido ou esposa. "Quem vive pelos cantos chorando suas pitangas acaba taxado de funcionário-problema e corre o risco de ser escanteado na hora da formação de grupos de trabalho", diz Wilson Mileris. Caso a dificuldade que vc enfrenta seja realmente grave, avalie se pode confiar no seu superior antes de pedir a colaboração dele. "Em algumas empresas, ainda há aqueles que vêem os problemas pessoais do funcionário com um certo preconceito. Quem não confia no chefe, não deve falar com ele", diz a psicóloga Júnia Ferreira, especialista em medicina comportamental, da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). "Em casos assim, o superior só deve ser comunicado se for necessário alterar a rotina de trabalho." Seja qual for a postura da empresa, é importante que você busque também apoio fora do escritório. "Dependendo do caso, o ideal é contar com acompanhamento médico ou psicológico", diz Júnia. Ela recomenda, ainda, que você procure o apoio dos amigos e pratique um esporte ou uma atividade como meditação ou ioga. Isso não vai resolver o problema, mas vai ajudá-lo a recarregar as energias e enxergar as coisas sob outra perspectiva. "Esse afastamento ajuda a ver a situação com mais clareza e, quem sabe, encontrar uma solução", diz Nivaldo Dutra.
MANTENHA O CONTROLE
Veja como lidar com seus problemas pessoais na empresa:
*Evite falar demais e fazer-se de "coitadinho". Divida seus problemas com o menor número possível de pessoas no trabalho.
*Se possível, receba e faça telefonemas pessoais no celular, no horário do almoço ou nos intervalos para o café.
*Salvo em casos como morte, tenha um plano B: conte com alguém que possa ajudá-lo em tarefas domésticas ou que leve seu filho ao médico no dia em que vc não puder.
*Comunique ao chefe se precisar alterar sua rotina de trabalho, para que ele não interprete sua ausência ou falta de concentração como falta de comprometimento.
*Verifique se a empresa oferece algum tipo de auxílio para os funcionários com problemas pessoais e busque ajuda.
*Se vc não está conseguindo lidar sozinho com seus problemas, uma ajuda profissional é sempre bem-vinda.
*Doenças ou morte de parentes
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